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terça-feira, 15 de maio de 2012

Ironia Urbana


Hoje, meu primeiro post aqui no DEZ palavras! Quero aproveitar para contar uma história:

Ele estava de pé, na calçada. Sempre de pé. Quem dera pudesse virar o pescoço pra espiar quem vinha lá de trás. Na verdade não podia ver, era todo ouvidos. “Claro, sendo um orelhão, como poderia ser diferente?”, pensou. Volta e meia fazia essas divagações, tempo era o que não faltava para pensar. Aliás, ultimamente tinha estranhado a falta de movimento em torno de si, as pessoas pareciam não sentir mais necessidade de ligar umas para as outras.
Apesar disso, não se incomodava com os pequenos vizinhos: só o lixo jogado em volta (não tinha olfato, só audição). O mato do terreno ao lado é que parecia querer o orelhão para si, crescia e tomava conta cada vez mais.
Não pensei que usaria essa foto de novo, ela é do dia 19/09/2010. Foto: Paula Nishizima.

Num belo dia, algo aconteceu! Um rapazinho sem aparentemente nada demais, se aproximou e apontou um pequeno aparelho eletrônico para o orelhão, deu-lhe a volta, apertou um ou dois botões e foi embora. Mal sabia o orelhão que o rapaz tinha registrado sua terrível aparência: totalmente pichado, tanto por fora quanto por dentro, com o mato tomando conta e sem nenhuma iluminação por perto para que algum mal afortunado pudesse usá-lo durante a noite.
Tempos depois, o orelhão apareceu na TV, ficou famoso sem saber. O telejornal local mostrou seu estado de descaso e definiu: “Completamente perigoso usar esse orelhão à noite, inviável!”. Como é muito bom ouvinte, o pobre orelhão ficou sabendo por alguém que passava perto dele num dia qualquer. “Eu? Na televisão?! Será que agora eles mandam me limpar e cortam esse mato todo?”, pensava consigo mesmo. Fazia até planos para os futuros dias de glória.
Por volta de uma semana depois, quem passou por aquele cantinho, sentiu falta de alguma coisa... Não seria, por acaso... Do orelhão?! Era dele mesmo. Cadê? Tinha sumido. Curioso observar que o mato e o lixo continuavam lá, só o orelhão havia ido embora. Parece que a empresa de telefonia preferiu retirar o orelhão, ao invés de cortar o mato, limpar as pichações, tirar o lixo,... Ia dar muito trabalho né?

Por: Paula Nishizima.

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