Hoje, meu primeiro
post aqui no DEZ palavras! Quero aproveitar para contar uma história:
Ele estava de pé, na
calçada. Sempre de pé. Quem dera pudesse virar o pescoço pra espiar quem vinha
lá de trás. Na verdade não podia ver, era todo ouvidos. “Claro, sendo um
orelhão, como poderia ser diferente?”, pensou. Volta e meia fazia essas
divagações, tempo era o que não faltava para pensar. Aliás, ultimamente tinha
estranhado a falta de movimento em torno de si, as pessoas pareciam não sentir
mais necessidade de ligar umas para as outras.
Apesar disso, não se
incomodava com os pequenos vizinhos: só o lixo jogado em volta (não tinha
olfato, só audição). O mato do terreno ao lado é que parecia querer o orelhão
para si, crescia e tomava conta cada vez mais.
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Não pensei que usaria essa foto de novo, ela é do dia 19/09/2010. Foto: Paula Nishizima. |
Num belo dia, algo
aconteceu! Um rapazinho sem aparentemente nada demais, se aproximou e apontou um
pequeno aparelho eletrônico para o orelhão, deu-lhe a volta, apertou um ou dois
botões e foi embora. Mal sabia o orelhão que o rapaz tinha registrado sua
terrível aparência: totalmente pichado, tanto por fora quanto por dentro, com o
mato tomando conta e sem nenhuma iluminação por perto para que algum mal
afortunado pudesse usá-lo durante a noite.
Tempos depois, o
orelhão apareceu na TV, ficou famoso sem saber. O telejornal local mostrou seu
estado de descaso e definiu: “Completamente perigoso usar esse orelhão à noite,
inviável!”. Como é muito bom ouvinte, o pobre orelhão ficou sabendo por alguém
que passava perto dele num dia qualquer. “Eu? Na televisão?! Será que agora
eles mandam me limpar e cortam esse mato todo?”, pensava consigo mesmo. Fazia até
planos para os futuros dias de glória.
Por volta de uma
semana depois, quem passou por aquele cantinho, sentiu falta de alguma coisa...
Não seria, por acaso... Do orelhão?! Era dele mesmo. Cadê? Tinha sumido. Curioso
observar que o mato e o lixo continuavam lá, só o orelhão havia ido embora.
Parece que a empresa de telefonia preferiu retirar o orelhão, ao invés de
cortar o mato, limpar as pichações, tirar o lixo,... Ia dar muito trabalho né?
Por: Paula Nishizima.
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